Jo Melo, 36 anos, enfrentou a maternidade solo como mulher autista, órfã e sem rede de apoio. Sobrevivendo a um relacionamento abusivo e aos desafios de criar seu filho sozinha, encontrou na escrita uma forma de expressar suas dores e, mais tarde, de apoiar outras mulheres. Em 2017, criou a revista Mães que Escrevem, que já publicou mais de 2.000 textos, alcançando mulheres em todo o Brasil e até internacionalmente.
“O isolamento que vivi me mostrou que muitas mulheres passam pelas mesmas dificuldades, mas se sentem invisíveis. A revista surgiu para dizer que estamos juntas e que nossas histórias merecem ser ouvidas e valorizadas”, explica Jo.
A solidão materna é uma realidade que afeta muitas mulheres, especialmente em contextos de maternidade solo e entre populações vulnerabilizadas. Dados preliminares da Pesquisa Nascer no Brasil II, coordenada pela Fiocruz, mostram que a solidão materna está entre os fatores que dificultam o acesso à saúde de qualidade e o suporte emocional necessário durante a maternidade. Este fenômeno é mais acentuado entre mulheres negras, devido às interseções entre racismo estrutural e desigualdades de gênero.
Além disso, o Observatório Brasileiro das Desigualdades, emseu último relatório, aponta que desigualdades econômicas e sociais também contribuem para sentimentos de isolamento e para a sobrecarga no cuidado de crianças, fatores que muitas vezes são invisibilizados, mas que têm impacto significativo no bem-estar materno.
Além de ser editora da revista, Jo Melo construiu uma sólida trajetória como escritora. É autora dos livros Os Cinco Sentidos (Editora Patuá, 2024), Hipérboles (2022) e as antologias O Amor é um Grito e Instagramável (Toma Aí Um Poema). Sua escrita foi reconhecida internacionalmente, com o VII Prêmio Talentos Helvéticos-Brasileiros na Suíça.
Como membro da AJEB-SP (Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil), Jo também lidera iniciativas que fortalecem redes entre mulheres. “Ao longo do tempo, criei encontros e parcerias para apoiar mulheres que enfrentaram, como eu, os desafios da maternidade solo, da falta de acolhimento e das barreiras emocionais. Juntas, construímos um espaço de escuta e força”, afirma.
Este ano, Jo será empossada como membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade, ocupando a cadeira 18, que homenageia Carolina Maria de Jesus.
A revista Mães que Escrevem vai além de ser um veículo literário: é uma plataforma de acolhimento, troca e transformação. “Escrever foi minha forma de sobreviver aos dias mais difíceis. Hoje, a revista é a prova de que, juntas, podemos transformar nossas histórias em algo poderoso e coletivo”, afirma.
A missão de Jo não para na literatura. Para o futuro, ela deseja expandir a atuação da revista Mães que Escrevem, buscando patrocínios e parcerias com pessoas e empresas que compreendem a importância de acolher mulheres e valorizar a literatura. A ideia é alcançar ainda mais mulheres, criar novos espaços de troca e significados, e consolidar uma rede de apoio que seja tanto literária quanto prática.
“Sonho com um mundo onde nenhuma mulher precise enfrentar a maternidade em isolamento. Quero que a revista seja um refúgio, um espaço para escuta e acolhimento mútuo, onde cada história encontre um propósito maior”, conclui Jo.