Sono e obesidade infantil: criança que dorme mal corre mais riscos de engordar

Especialista explica o que acontece com o organismo quando a criança não dorme o tempo recomendado

27/11/2024 às 14h18
Por: Redação SP
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Foto/Reprodução: Ilustração/Divulgação
Foto/Reprodução: Ilustração/Divulgação

O Brasil pode chegar a 20 milhões de crianças e adolescentes obesos em 2035, segundo projeção do Atlas 2024 da Federação Mundial da Obesidade. O ganho de peso no segmento infanto-juvenil (de 5 a 19 anos de idade) pode ter uma salto de 34% de indivíduos com Índice de Massa Corpórea (IMC) alto em 2019 (o equivalente a 15,58 milhões de jovens) para 50% (20,39 milhões) em 2035.

O número é preocupante e mudar os hábitos na alimentação é fundamental para reverter esse quadro. Mas uma informação pouco conhecida é de que a qualidade do sono também pode ser um fator de risco para a obesidade infantil.

A pediatra Bruna de Paula, idealizadora do Método Comer, que é um programa de acompanhamento nutricional para a dificuldade alimentar infantil, explica que o sono ajuda a manter equilibrados dois hormônios essenciais que regulam o apetite: a grelina e a leptina. “A grelina estimula a fome e a leptina sinaliza a saciedade. Quando a criança dorme mal há um aumento nos níveis de grelina e uma diminuição na leptina, fazendo com que ela sinta mais fome e menos saciedade. Esse desequilíbrio leva ao aumento do apetite, principalmente por alimentos calóricos e pouco nutritivos”, disse.

Ainda de acordo com a especialista, “a falta de sono aumenta os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, que também está associado ao aumento do apetite e ao acúmulo de gordura abdominal. Esse acúmulo está relacionado a problemas metabólicos, como resistência à insulina, que é um fator de risco para obesidade. Crianças com privação de sono tendem a ter um metabolismo mais lento, o que significa que o corpo gasta menos energia em repouso e durante as atividades. Esse metabolismo reduzido aumenta a probabilidade de ganho de peso, especialmente se a criança também tiver um apetite aumentado por conta dos desequilíbrios hormonais”, pontua Bruna de Paula.

A médica ressalta que a falta de sono afeta a regulação emocional e o controle dos impulsos, o que leva as crianças a fazer escolhas alimentares menos saudáveis. “Com o cansaço, muitas acabam buscando conforto em alimentos ricos em açúcar e gordura, em um mecanismo de recompensa que as ajuda a lidar com a irritabilidade e o cansaço. E crianças descansadas têm mais energia para brincar e se movimentar ao longo do dia. A falta de sono, por outro lado, pode levar à fadiga e à redução na disposição para atividades físicas, resultando em um estilo de vida mais sedentário e menos gasto calórico”, frisa a pediatra.

Hábitos da família influenciam no comportamento da criança:

A médica chama a atenção para a importância da família cultivar bons hábitos e proporcionar um ambiente saudável para moldar o comportamento diário da criança, incluindo as rotinas de sono, as escolhas alimentares e o nível de atividade física.

A família que estabelece rotinas consistentes de horários para dormir e acordar ajuda a criança a manter padrões de sono regulares, o que facilita o descanso e a recuperação física e mental. Outras atitudes importantes para garantir um sono de qualidade são: reduzir o uso de telas, pelo menos uma hora antes de dormir; reduzir a luz no quarto e manter um ambiente silencioso; manter uma temperatura ambiente agradável; oferecer uma alimentação balanceada ao longo do dia e um jantar leve e nutritivo e incluir atividade física regular para ajudar a gastar energia e facilitar o sono”, conclui.

 Tempo ideal de sono:

As recomendações de horas de sono variam de acordo com a faixa etária, pois cada etapa do desenvolvimento infantil tem necessidades específicas:

• Recém-nascidos (0 a 3 meses): Entre 14 e 17 horas por dia. O sono dos recém-nascidos é fragmentado ao longo do dia e da noite, com períodos de 2 a 4 horas de sono por vez.

• Lactentes (4 a 12 meses): Entre 12 e 16 horas por dia, incluindo as sonecas diurnas. Nessa fase, os padrões de sono começam a se organizar, e a criança tende a dormir por períodos mais longos à noite.

• Crianças pequenas (1 a 2 anos): Entre 11 e 14 horas por dia, incluindo sonecas. Aos poucos, as crianças dessa idade tendem a reduzir o número de sonecas para uma vez por dia.

• Pré-escolares (3 a 5 anos): Entre 10 e 13 horas por dia.

• Crianças em idade escolar (6 a 12 anos): Entre 9 e 12 horas por noite. As sonecas geralmente são abandonadas, e a criança precisa de um sono noturno prolongado para suportar o crescimento e as atividades escolares.

• Adolescentes (13 a 18 anos): Entre 8 e 10 horas por noite. Durante a adolescência, os horários de sono podem se alterar devido a mudanças hormonais e demandas escolares.

Sobre a Pediatra:

Bruna de Paula é pediatra há mais de 15 anos, com especialização em Terapia Intensiva Pediátrica, e é idealizadora do Método Comer, um programa de acompanhamento nutricional para a dificuldade alimentar infantil. O objetivo do método é levar conhecimento às famílias que sofrem com a introdução alimentar e com a recusa dos filhos aos novos alimentos.

A médica atende presencialmente em Vitória, no Espírito Santo, e também de forma online.

Acompanhe a doutora Bruna de Paula pelo perfil do Instagram: @dra.brunadepaula.pediatra e pelo Youtube: Dra Bruna de Paula Pediatra.

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