O evento foi realizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Considerado um espaço pequeno perto dos grandes estádios e arenas, é um dos melhores lugares para assistir a shows na cidade. Mesmo à distância, a visão do palco é nítida; as pessoas ficam confortáveis esperando as apresentações, relaxando na grama (teve até redes colocadas ao redor do evento).
A organização foi o ponto-chave desse excelente festival. As apresentações foram pontuais nos dois palcos. Iluminação e som impecáveis, inclusão com intérpretes de Libras no telão, limpeza e educação dos colaboradores. Tudo digno de aplausos. Foi um festival que destacou mulheres poderosas, com personalidades distintas e muito protagonismo.
O sol estava lá às 13h40 para prestigiar a banda (duo) The Lemon Twigs, formada pelos jovens irmãos Michael e Brian D’Addario. Eles trouxeram um som de “tiozinho”, digno de calar a boca de quem diz: “Na época de Beatles e Rolling Stones é que era bom”.
Antes, no palco paralelo, o potente e honesto som do Supervão deu o seu recado. Menções honrosas às bandas e artistas: Vera Fischer Já Foi Clubber, Maria Beraldo e Yago Oproprio, que também se apresentaram no palco Poploading by Heineken.
No palco principal, a menção mais que honrosa foi para Terno Rei com Samuel Rosa. O show começou sem o convidado, e por um instante, me deu um “ué?”, mas, depois de duas músicas, eu nem lembrava mais do líder do Skank. Porém, quando ele subiu ao palco, o público inflamou. Com sua camisa verde e jeito simples, mostrou o seu tamanho: tocou músicas do Skank e outras tantas do Terno. Saiu, mas voltou para um bis que encerrou o espetáculo com chave de ouro. Gostei muito da dinâmica: Samuel passou o bastão do seu legado (que ainda continua) para essa excelente banda.
Para preencher o vazio pré-show da Kim Gordon, tivemos uma playlist de respeito, com “Killing in the Name”, do Rage Against the Machine, e “You Know You're Right”, do Nirvana criando o ambiente certo para o show da estrela alternativa.
Kim tocou seu trabalho solo: um som pop eletrônico caótico (por assim dizer), dando um choque de realidade com pitadas de atitudes noventista na plateia mais jovem, deixando os desavisados sem entender nada. Debochada e autêntica, a inquieta tocou guitarra e fez o que quis, deitou e rolou... literalmente. Trajada com a mensagem (“Gulf of Mexico”) em seu blusão, meia-arrastão, shorts e óculos escuros, a eterna líder do Sonic Youth mostrou que, aos 72 anos, ainda tem o teen spirit, lenha pra queimar e muita coisa a dizer.
Ao anoitecer, a islandesa Laufey, com sua voz incrível, foi a Miss Simpatia do rolê. Com o Grammy de Melhor Álbum Pop Tradicional, pelo disco Bewitched, na bagagem, falou, recebeu e mereceu um grande “Eu te amo” do público. Levantou a bandeira brasileira e terminou em grande estilo sua “bossa nova gringa”. Notas altas para o público jovem, muito engajado e com empolgação genuína.
A próxima atração do palco principal foi St. Vincent. Muito poderosa e com o melhor visual da noite, mandou ver com atitude rockstar, indo para os braços da galera. Sem medo e com presença, tocou músicas do seu último álbum, All Born Screaming. Conceito estético e som perfeitos dessa grandiosa musicista.
Mas nem tudo foi calor: às 20h44, Norah Jones subiu ao palco e, com seu jeito intimista, regeu a melhor banda da noite. Chamou Laufey ao palco e colocou a cereja que faltava no bolo com um dueto digno de simbiose em “Come Away With Me”.
No final, é claro, espantou o friozinho e fez quase todos darem um abraço caloroso ao som do clássico “Don’t Know Why”. Música que embalou, há mais de 20 anos, a novela Mulheres Apaixonadas. (Se você conhece um careca ou é ele, assim como eu, certamente vai lembrar.) Apesar da música dizer “não sei por quê”, ela soube muito bem o porque do seu papel de musa e headliner do festival.