BDSM é um acrônimo que engloba uma série de práticas sexuais e de relacionamento envolvendo Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo. O termo surgiu na década de 1960 como uma forma de agrupar diversas atividades que envolvem poder, controle e prazer sensual. Apesar de sua crescente popularidade, o BDSM ainda é cercado por muitos mitos e preconceitos. Segundo uma pesquisa de 2023, publicada pela Universidade de São Paulo, cerca de 20-30% das pessoas já praticaram alguma atividade relacionada ao BDSM. Porém, muitos ainda acreditam que essa é uma prática restrita a um grupo minoritário e desviante.
Para desmistificar o tema, conversamos com Marina Rotty e Marcio Wolf, um casal não-monogâmico consensual especializado em sexualidade e universo liberal. Marina é sexóloga, psicóloga e mentora em não-monogamia consensual, enquanto Marcio é empresário, psicanalista em formação e sex coach.
Segundo o casal liberal, um dos principais mitos é a associação automática entre BDSM e dor. "Muitas pessoas acreditam que o BDSM é sempre sobre dor e violência, mas isso está longe da realidade", explica Marina. Outro mito comum é a ideia de que o BDSM é apenas sobre sexo. "Raramente os adeptos misturam o ato sexual com as práticas fetichistas", afirma Marcio. Além disso, o filme "50 Tons de Cinza" romantiza muito a prática, distorcendo a realidade.
Para entender melhor essa dinâmica, o casal explica que os pilares do BDSM incluem o SSC (Seguro, Sano e Consensual) e o RACK (Risco Assumido, Consensual e Conhecido). "Isso significa que todas as atividades devem ser realizadas de maneira segura, com sanidade mental e com o consentimento informado de todos os envolvidos", afirma Marcio. Além disso, os participantes estabelecem palavras de segurança para interromper a atividade a qualquer momento, e o aftercare garante que todos se sintam seguros e apoiados emocionalmente após a sessão.
Aftercare é um aspecto fundamental do BDSM saudável, que se refere aos cuidados e atenção dispensados aos participantes após uma sessão intensa. "O aftercare é essencial para garantir que todos os envolvidos se sintam seguros, confortáveis e emocionalmente apoiados", explica Marina. Esse processo pode incluir hidratação, alimentação, aplicação de gelo ou pomadas, abraços e carinhos, conforme as necessidades de cada pessoa.
Outro mito comum é a ideia de que o BDSM é apenas sobre sexo. "Na verdade, o BDSM pode envolver dinâmicas emocionais, psicológicas e de estilo de vida muito mais amplas", afirma Marcio. Através da prática, os parceiros aprendem a se comunicar de forma aberta, estabelecer limites claros e superar medos em conjunto.
Para desmistificar de vez a prática, é importante entender que o BDSM é exercido por pessoas de todos os tipos de perfil. "Estudos mostram que a curiosidade e a prática de BDSM são comuns entre uma ampla variedade de pessoas, muitas das quais levam vidas perfeitamente normais e respeitáveis fora de suas atividades", explica Marina. Ou seja, a ideia de que apenas pessoas de um nicho específico praticam BDSM é um mito baseado em desinformação e estigmas culturais.